Artigo de Opinião: A beleza diversa e inclusiva realmente inclui?

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  • 20 de Setembro de 2021
  • Tatiane Paixão é Relações Públicas especialista em autoridade/reputação e fundadora da PR4Impact
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Artigo de Opinião: A beleza diversa e inclusiva realmente inclui?

Em meio a inspiradoras narrativas sobre beleza diversa e inclusiva, em algum momento já lhe ocorreu questionar se os produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos (HPPC) desenvolvidos sob os holofotes do ESG (Environmental, Social and Governance) são realmente inclusivos? 

Essa minha inquietude é também um convite para juntes** refletirmos sobre a responsabilidade das marcas de beleza, saúde e bem-estar na verdade de seus discursos e práticas sob o ângulo do pertencimento – inerente ao termo inclusão.

Em 1988 Naomi Campbell marcava história como a primeira mulher negra em uma capa da Vogue. Em 2016 James Charles dava voz ao movimento da maquiagem masculina enquanto primeiro garoto-propaganda da Covergirl, e um ano depois Jessica Blackler, make-up artist, lançava uma paleta de corretivos especialmente pensada para pessoas transgêneras. Ainda em 2017, Rihanna revolucionava o mercado cosmético com os 40 tons de base da sua marca Fenty Beauty, e em 2020 Ellie Goldstein, modelo com síndrome de down, estrelava campanha para a Gucci Beauty. Para além da maquiagem, marcas dedicadas a fragrâncias sem gênero e linhas multiculturais para cuidados dos cabelos e pele tiveram resposta positiva do mercado nos últimos anos, gerando MIV (Media Impact Value) - representação monetária para desempenho de marca, de milhares e milhares de dólares. 

De acordo com um estudo publicado em 2020 pela Business of Fashion and McKinsey & Company, quase 2/3 das pessoas consumidoras são autoproclamadas compradoras orientadas por crenças. Isso significa que a disposição com que se engajam a uma marca é a mesma para o seu cancelamento. Assim, reconhecer e valorizar a diversidade é, sem dúvida, um grande passo num caminho sem volta para a prosperidade dos negócios com legado humanizado. 

Mas entendo que o aumento da sensibilização, conscientização e expectativa de integração dos ODS nas estratégias de negócios já vem apontando às empresas responsabilidade nas tratativas de questões sociais mais amplas, indo além de produtos e narrativas fundamentadas na diversidade, para se chegar à inclusão de fato. Inclusão que se faz no dia a dia, no acolhimento, engajamento e compartilhamento de valor com stakeholders e shareholders. Inclusão que se faz na criação de espaços, lugar de fala, comunicação inclusiva e acesso, para que agentes do ecossistema possam se sentir não só representades, mas realmente pertencentes a modelos de mútua colaboração, rumo a uma economia que não deixe ninguém para trás.

Como a indústria de HPPC pode ser exemplo de superação em questões como universalização do acesso a produtos básicos de higiene; criação de ambientes seguros a pessoas convivendo com HIV/AIDS; minimização da pobreza menstrual e menstruação sem gênero - das meninas e mulheres em condições de pobreza e vulnerabilidade aos homens trans e pessoas não binárias que menstruam e não se veem representades nas narrativas e comunicação visual dos produtos para o cuidado íntimo, dentre tantos outros pontos...

Por mais inovações sociais e sustentáveis como a da Pantys, pioneira brasileira em calcinhas e cuecas absorventes para todas as pessoas que menstruam. Mas como promover a verdadeira inclusão, uma vez que nem todes podem usufruir dessas soluções? 

Longe do imediatismo em somente dar o peixe, meu questionamento tangencia o ensinar a pescar. Que agendas positivas as indústrias de HPPC podem fomentar tendo como pano de fundo a educação de qualidade, acesso a trabalhos dignos e igualdade para que a inclusão aconteça suportada na diversidade e representatividade? 

Ainda que tenhamos trilhas desafiadoras e de muito aprendizado pela frente, indústrias de ingredientes e de bens de consumo já vêm iluminando o caminho a partir de suas verdades sustentáveis. Iniciativas como o Programa de Valorização da Sociobiodiversidade®, da Beraca, que promove inclusão social e econômica, com respeito e dignidade, a comunidades fornecedoras de matérias-primas da biodiversidade brasileira por meio de valor compartilhado; o Programa Wash in School, que permite a crianças em idade escolar na Índia acesso a melhores condições sanitárias - graças a uma parceria entre UNICEF e Symrise; o Pré-vestibular Jenipapo Urucum, um projeto da Associação Nacional de Ação Indigenista (ANAÍ) com o apoio do programa L´Oréal para o futuro, em prol da educação de mulheres indígenas para o ingresso em universidades brasileiras; e o portfólio completo de produtos inclusivos e diversos proposto pelo Grupo Boticário para 2030 são alguns exemplos inspiradores.

Sim, é possível mudarmos o jogo a partir de histórias reais e pessoas reais. Finalizo este artigo, mantendo acesa a reflexão, com um pequeno trecho da série The Bold Type: “Uma voz pode inspirar outras. Uma voz pode iniciar um movimento.                         

Em nossas vidas pessoais, e nas histórias que contamos, a verdade deve sempre vir primeiro”. E você, concorda? Vamos juntos (as/es) ao próximo passo!

*Tatiane Paixão é Relações Públicas especialista em autoridade/reputação e fundadora da PR4Impact

**Acredito na comunicação inclusiva como potente instrumento de impacto positivo. Por isso, este artigo faz uso de linguagem inclusiva (não sexista) e neutra (não binária) - esta última expressa com uso do “e” no fim das palavras - em respeito, valorização, empatia e acolhimento à diversidade humana: gêneros diversos, étnico-racial, corporal, sexual dentre outras possibilidades de ser e existir no mundo.  

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