Mudanças na Tributação: Ikesaki fala em incertezas para o futuro do setor

As mudanças de Tributação anunciadas pelo governo (clique aqui) têm deixado o setor cosmético agitado e à procura de respostas para algumas questões que precisam ser esclarecidas. Apesar de querer aguardar a publicação oficial do decreto, Cesar Tsukuda, diretor Comercial da Ikesaki, conversou com o Cosmética News e deu seu parecer a respeito do momento de incertezas vivido pelo mercado. 

Seu posicionamento começa pela surpresa por conta da imposição do governo, passando pela preocupação com o cenário que deve ser construído a partir de então e chegando pelo temor a respeito do futuro do setor, principalmente para as empresas de médio e pequeno porte. Confira a entrevista.

Qual é sua avaliação a respeito dessas mudanças tributárias indicadas pelo governo?
Primeiro ponto é que ainda há muita desinformação. O governo comentou sobre o aumento do IPI, sobre passar a recolher na distribuidora e no atacado, mas efetivamento o texto ainda não foi publicado. E dependendo de como ele for publicado, ele terá um impacto maior ou menor. De todo o jeito, seja como for, é certo que haverá um aumento de preço. E isso em um momento em que nossa economia não está com esta robustez toda. Já estamos sentindo no começo deste ano uma dificuldade de obter crescimento e de melhorar o movimento das lojas.

Você tem conversado com clientes a respeito disso? Qual o sentimento deles?
Em contato com a indústria, é unânime dizer que, sem este aumento, já estamos tendo dificuldades. E com o aumento ficará um cenário bastante incerto. Há um sentimento grande de injustiça entre os empresários sob dois aspectos. Primeiro porque o imposto do setor já é alto; e o segundo ponto é onde queremos chegar, pois o governo alega, de certa forma, que este é um setor que cresce e que não é impactado por crises. Quer dizer então que os setores que fazem seu trabalho e seus investimentos corretos e que fazem o setor crescer, devem ser penalizados? Todos temos de trabalhar para ficar ruim? Tudo isso me parece algo um pouco do avesso. Ao invés de termos uma discussão de como podemos crescer – pois o setor é maduro para discutir isso –, estamos falando de formas de penalizar o setor. E justamente em um momento em que tudo o que não poderíamos discutir era retração.

Normalmente, para passar por cima de situações como essa, as empresas deveriam contar com um caixa razoável. Porém, este não é o cenário para a maior parte das empresas de nosso setor. Sendo assim, é possível imaginar dias mais difíceis para estas companhias, principalmente as de médio e pequeno porte?
É difícil dizer, mas em momentos de crise, independentemente do tamanho, obviamente que as empresas que têm uma situação financeira mais estável, com um caixa mais robusto, elas têm a prevalecer sobre estes momentos. Agora, acredito que sempre há soluções e o mercado de beleza sempre tem achado-as nos últimos anos. Acredito que cada um vai entender seu momento e pegar o caminho que entende como o melhor. A grande preocupação é que pela primeira vez, em 18 anos que estou no setor, tenho escutado vários empresários falarem de forma sequencial que irão demitir. Desta forma, acredito que faremos o País sofrer duas vezes e quem vai pagar o preço disso no final é a população, o consumidor. Num primeiro momento em função dos aumentos de preço e no momento seguinte por desemprego. Este é um setor que emprega uma mão de obra imensa, não só a indústria, mas também a parte de serviços. É um setor que gera muitos empregos, inclusão social... e de uma certa forma, o sentimento, conversando com vários empresários do setor, é que começarão a demitir.

Do que foi divulgado até agora, quais são as principais dúvidas existentes e que precisam ser esclarecidas para o mercado?
A prioridade e que na verdade não é bem uma dúvida e sim um questionamento, é saber qual o sentido deste aumento de imposto. Qual é a real intenção do governo em relação a isso? Isso é o principal. Eu preferia nem ter dúvida em relação ao decreto, pois a gente não consegue de alguma forma bloqueá-lo. Creio que não haja muita solução pelo o que temos escutado das associações e do próprio governo. Entrando no mérito do decreto, a grande dúvida é se isso vale exclusivamente para o setor de cosméticos e o por quê; o segundo ponto é que o decreto diz que vale para distribuidor atacadista, mas vale para qualquer distribuidor atacadista ou só para os distribuidores direto da indústria? Essa é uma grande dúvida que não sabemos e acho que nem o governo sabe como vai escrever isso.

Qual o posicionamento da rede Ikesaki então no momento?
Temos a Abihpec como representante da indústria e do setor, e ela está se movimentando contrária a tudo isso. Este assunto de aumento de imposto no setor foi muito falado no ano passado, mas aparentemente a Abihpec havia conseguido fazer uma defesa no governo contra isso. Agora a gente está sendo surpreendido de que isso entrará em vigor. Mas acredito que a Abihpec tenha todo um racional de defesa. E claro que isso afetará a cadeia produtiva como um todo em termos de comércio e serviços, mas inicialmente este é um imposto industrial. Estamos acompanhando e preparados para dar o apoio necessário. E há uma expectativa muito grande, pois isso pode ser uma semente muito ruim para o mercado nos próximos anos. Volto a destacar a preocupação com as pequenas e médias empresas, não só pelo fato de elas eventualmente não aguentarem, mas nos últimos anos elas têm investido bastante em novos produtos e em distribuição, além de movimentarem o mercado. Em uma análise fria, você diz: 'vou repassar ao consumidor e está tudo certo', mas não é tão simples assim. O que provavelmente vai acontecer é algumas indústrias terão de absolver parte destes aumentos e isso impacta diretamente em resultados e em poder de reinvestimento. E isso, a longo prazo, condena o futuro do setor.

Víamos o setor preocupado recentemente, imaginando que alguma coisa neste sentido poderia acontecer, mas você afirmou que, de certa forma, foram pegos de surpresa. Você acredita que o setor, mesmo esperando algo assim, também foi surpreendido com estas medidas?
Eu não sei se surpresa é a palavra mais adequada, mas eu diria que ela reside no fato de isso se concretizar. Porque aumento de impostos vira e mexe está sendo motivo de boatos. Agora o aumento estar vindo e desta forma é que surpreende. Mas volto a dizer que não é possível falar muito sobre isso, pois não sabemos como virá o texto. Porém, seja lá qual for o tamanho do aumento, temos o sentimento de injustiça em relação ao setor.

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