Ousando mais

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Das gôndolas da 25 de Março a Ruby Rose vem agitando o mercado e mexendo com a concorrência


Se há uma marca capaz de ilustrar com precisão o que tem acontecido dentro do cenário na categoria de Maquiagem no Brasil, nos últimos anos, esta marca pode ser a Ruby Rose. Um mercado que tem visto muitas empresas, que até então penavam para conquistar um lugar ao sol, agora figurarem até com certo destaque na categoria por diversos motivos. Um acesso mais amplo à oferta de terceiristas, ativos e embalagens por si só já dá uma boa sustentação para o surgimento de novas marcas nesse segmento aqui no Brasil.

 Mas é sempre válido lembrar que cada um trilha seu caminho, não é mesmo?! E o percurso percorrido pela Ruby Rose para alcançar o status, ao qual sustenta atualmente, é no mínimo curioso. Vamos tentar resumir: de alguém que se tornou conhecido por ter seus produtos fazendo sucesso na 25 de março, principal centro de comércio popular da cidade de São Paulo, a uma marca que conquistou respeito e espaço no mercado, além de já incomodar concorrentes. É claro que esta brevíssima linha do tempo ou thread (termo que está em alta no meio digital) é bem sucinta, mas ela explica bem a guinada pela qual passou a companhia em apenas dois anos e meio para cá. Uma parcela bem pequena de tempo para uma companhia de origem russa, mas criada por libaneses, com 40 anos de vida, sendo os últimos 14 deles também no Brasil. Ao todo, a marca se faz presente em 14 países atualmente. 

Jogo virado, mas filosofia mantida
Desde o início de sua atuação no País, o sistema de distribuição dos produtos da marca sempre se mostrou bem confusa e foi um capítulo à parte na sua história. Com a filosofia do "bom e barato" e buscando fugir dos canais tradicionais, a Ruby Rose logo encontrou um local que se encaixava muito bem com suas pretensões: as perfumarias populares da 25 de Março. Lá, podia praticar sua estratégia de preços sem ser incomodada. Seus produtos, produzidos em sua grande maioria na fábrica da família fundadora localizada na China, foi ganhando certo espaço nesta década na região.  

Mas notoriedade mesmo a marca foi ganhando em meados de 2016, com o crescimento das redes sociais e, sobretudo, pelo explosivo aumento na quantidade de blogueiras. Muitas dessas chamadas influenciadoras digitais geraram diversos conteúdos cujo objetivo era justamente mostrar opções de maquiagens de qualidade e com preço acessível, sendo que a 25 de Março era o lugar escolhido por muitas delas para tal missão. 

A partir de então, a empresa que era tocada por um quadro enxuto de funcionários foi se tornando bastante conhecida nos meios de comunicação que estavam - e acreditamos que ainda estão - quentes naquele momento. Para somar com a fase iluminada que começava a se desenhar, um produto do portfólio estava em alta com as consumidoras e blogueiras: a base líquida Matte. "A base fez a Ruby Rose se tornar conhecida e ninguém achava base no mercado, mas não porque não fabricava, mas sim porque o estoque girava muito rápido. Isso foi em 2017", recorda Cleide Sales, gerente de Marketing da Ruby Rose. "A base é o nosso forte, que o pessoal fala que é 'reboco'", brinca ela. A febre da base fez com que a companhia tivesse de lançar seu próprio e-commerce, para garantir que as consumidoras receberiam o produto, independentemente do prazo.

O novo e inédito momento para a marca no mercado fez com que ela fosse adquirindo uma identidade de vez, além do próprio crescimento da empresa em si. "Começamos a criar uma identidade para a marca, mudar o logo, ter as informações dos lançamentos, pois ninguém sabia o que era lançado e hoje temos mais de 600 produtos disponíveis. E essa comunicação foi muito importante para todos saberem quem é a Ruby Rose", segue recordando Cleide. Mas mesmo que o momento exigisse um crescimento como companhia em diversos sentidos, ela garante que, seja qual o rumo que empresa tome daqui por diante, a intenção é manter a filosofia do "bom e barato".

O foco atualmente, segundo a gerente, é em qualidade, já que o recente preconceito vivido por ser barato e que, por isso, não prestava, ainda exerce influência nos passos da companhia. "Queremos atingir todos os públicos e quebrar isso de que o barato é ruim. Não! O barato é bom, porque a gente pesquisa muito. Colocamos muito sentimento em nossos produtos, temos um relacionamento muito próximo com o nosso consumidor. Todo esse conjunto está fazendo a Ruby Rose crescer muito", celebra Cleide, revelando que a marca deseja atender mais públicos, e não somente com maquiagem, mas também com outras categorias futuramente.

Alinhando a distribuição
Com o sucesso batendo à porta, a desorganização em termos de distribuição, decorrente de uma equipe enxuta, teve de ganhar uma atenção especial. Se antes este trabalho se dava apenas por meio de representantes, a Ruby Rose teve de montar uma estrutura satisfatória de distribuidoras para sustentar seu crescimento dentro de São Paulo e também em outros estados. Isso fez com que a companhia enfim chegasse de vez a redes de perfumarias. "Nosso crescimento se deu de maneira totalmente orgânica. Estamos formatando essa parte comercial, não está 100%, por isso estamos indo aos poucos. Mas já temos distribuidores em cada estado, sendo que tem estado que tem mais de um. E foi aí que começamos a ter mais controle, pois ele cuida do cliente, visita, tem promotor, mapeia? isso principalmente fora de São Paulo. Lá são eles que atendem às redes, em São Paulo tem mais de um, e as redes começamos a atender diretamente", conta Cleide. Mas a marca almeja muito mais. "Queremos atender grandes redes, seja farma, perfumaria e lojas de departamento, pois somos fracos nisso ainda", completa.

No caso das lojas de R$ 1,99, famosas nas regiões de comércio popular, sobretudo na 25 de Março, a Ruby Rose está procurando ajustar a relação que tem com esses lojistas. A marca entende que ao colocar seus itens para serem vendidos nessa faixa de preço, desvaloriza o produto que já é considerado barato. "Na verdade, não queremos perdê-los, seguimos vendendo para esses lojistas, mas é um trabalho bem demorado, pois estamos lidando com um processo que quebrará a rotina deles. Por isso, hoje estamos criando regras, mapeando em todos os estados e estamos conversando com todos eles para mostrar como que se deve trabalhar com a Ruby Rose. Dói um pouco para eles, mas não tem jeito, a marca está crescendo e precisamos organizar. Hoje está organizado, mas pode ficar melhor. Queremos de fato melhorar o trabalho deles e com a ação de distribuidor começou a melhorar isso já", celebra a gerente. Seguindo essa peregrinação, os produtos da companhia já estão presentes atualmente em quase 30 mil lojas no Brasil, se considerados todos os canais, sendo que a maioria já são perfumarias. Já as lojas de R$ 1,99, que há cerca de um ano e meio eram bem mais significativas para o negócio, hoje já são minoria na distribuição da marca.

Passos ousados
Hoje, é inegável que o Brasil é o país mais importante para os negócios da Ruby Rose, bem como para as suas pretensões futuras. Mesmo tendo triplicado a produção em sua fábrica na China para suportar o crescimento da marca, o fato de essa planta estar em outro país, bem distante, ainda causa alguns atritos no processo de desenvolvimento e produção. Apesar de muito já ter evoluído nesse sentido, o tempo gasto entre a ideia inicial de um produto, sua concepção e a entrega final segue como um belo entrave para a empresa. "O produto vem de lá, fazemos os testes, a gente não gosta. Volta pra China, eles têm de fazer outro para mandar para cá, a gente não gosta, volta pra lá. Isso acontece muitas vezes. E nisso passou-se um ano..., pois o laboratório está lá", lamenta Cleide. Além disso, a comunicação entre as partes também tem seus percalços por conta das línguas faladas. "Temos sempre reuniões com eles, mas muitas vezes é complicado passar e eles entenderem o que estamos querendo, mesmo isso tendo melhorado muito", conta.

Hoje, todos os itens de maquiagem da marca são fabricados na China, enquanto que no Brasil, são produzidos os itens para a pele, como demaquilante, sérum, máscara facial, fixador, água micelar e água termal. Todas essas questões têm feito a Ruby Rose pensar com mais carinho em um sonho que tem se tornado cada vez mais atual: o de ter uma fábrica em território tupiniquim. Apesar do desejo latente, este plano não tem previsão para ser colocado em prática. "A fábrica aqui ainda vai demorar um pouco, nem imaginamos quanto tempo, temos de estudar. Enquanto isso, vamos mantendo o trabalho que vem dando certo", contorna a gerente. Segundo ela, até o final do ano, a meta é crescer três vezes mais em comparação com 2018.

Independentemente da construção de uma fábrica no País, a Ruby Rose mantém planos audaciosos, visando aproveitar o fato de estar na "crista da onda". Além de buscar uma expansão dentro do próprio território nacional em termos de distribuição, a companhia também quer chegar a praticamente todos os países da América Latina, pois se encontra apenas no Brasil e no Paraguai atualmente. ?Nesses outros países, vamos atacar tudo. Se lá tiver uma 25 de março, vamos querer estar nas lojas de maquiagem, com a mesma identidade que temos aqui. Só que lá já controlando o espaço, com distribuidor, que já está fazendo o trabalho corretamente. Ele já mapeia onde quer trabalhar e isso é bem diferente de quando começamos?, compara. 

Há ainda uma outra meta ousada, a qual a Ruby Rose já colocou em prática: a de lançar um produto todo o mês. Este objetivo foi revelado pela companhia durante o evento realizado em São Paulo, que marcou o lançamento de um novo conceito para a marca, a partir do slogan: "Imagine, Ouse, Seja!". Para assegurar que consiga cumprir esta promessa de lançar um produto por mês, Cleide ressalta o desenvolvimento como empresa. "Era uma dificuldade fazer estudos de custo, porque não tínhamos braço. Hoje temos uma pessoa de desenvolvimento de produto aqui, de criação de embalagens, por isso que agora começou a vir coisas melhores. Aí é questão de melhorar mais ainda", garante ela.  

Mais do que o próprio crescimento como companhia em si, a Ruby Rose hoje adquiriu um amplo respeito junto às consumidoras e também do próprio mercado. Mesmo ciente de que a concorrência com outras marcas também aumenta na mesma proporção, a Gerente de Marketing diz não se importar muito com isso e lembra de quando a empresa estava no ostracismo. "Éramos uma marca que estava ali, escondida, tinha preconceito, ninguém dava muito valor. Se está incomodando alguém então é porque está dando muito certo. Não queremos tomar o lugar de ninguém. É legal que as marcas mais acessíveis estejam ganhando um espaço que antigamente não tinham. Hoje tem tantas marcas bacanas, que têm produtos bons, que podem ser acessíveis, e hoje você escuta o nome dessas marcas, antes elas não tinham essa oportunidade", exemplifica. "Isso tudo que está acontecendo está sendo extremamente importante para a marca, é um novo passo que nunca aconteceu conosco e as expectativas são as melhores", finaliza Cleide.

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