Precisa e com estilo

Para o perfumista Jean-Claude Delville (foto), a perfumaria brasileira ganhou uma identidade própria com um estilo identificável


Quem trabalha, acompanha ou mesmo consome a perfumaria brasileira sabe o quanto a categoria evoluiu ao longo dos últimos anos em termos de qualidade e consistência. E para quem passou 10 anos sem atuar diretamente na criação de fragrâncias para o país, o salto foi colossal.

Que o diga o perfumista francês Jean-Claude Delville, criador de fragrâncias de renome e sucesso internacional como Clinique Happy, Cabotine de Grés e Vera Wang. Delville trabalhou na criação do perfume Tarsila, de O Boticário, em 2004, quando ainda atuava pela casa norte-americana IFF. Atualmente trabalhando no centro criativo da casa alemã Drom, em Nova York, ele voltou ao Brasil para redescobrir o mercado e trabalhar em uma nova criação, das mais importantes para a Drom em sua história no Brasil. E a surpresa não poderia ser mais positiva para o criador. “O que mudou demais na perfumaria do Brasil de lá para cá é que o estilo da perfumaria brasileira ficou mais preciso. Quando vim pela primeira vez, as fragrâncias que eu cheirava não tinham um estilo muito bem definido, acurado, brasileiro”, conta. Agora o perfumista diz que consegue reconhecer nas principais marcas locais um estilo próprio. “Assim como reconheço o estilo de um perfume francês, norte-americano ou italiano. E os consumidores estão comprando os perfumes brasileiros, então eles enxergam algo de muito bom.”

Mas o que marca esse estilo brasileiro mais preciso de perfumaria? Para Delville, equilíbrio é o ponto central nas criações perfumísticas para o país. “As fragrâncias são muito femininas, com lasting longo, difusivas... Mas elas não são too much. A composição não é muito especiada, muito oriental, muito seca, existem algumas flores que vocês não gostam. Isso acabou criando um estilo”, acredita o perfumista. Essa busca por equilíbrio faz com que não só a assinatura olfativa, mas também as construções das fragrâncias sejam diferentes o que a torna ainda mais peculiar e única no mundo. “Mesmo que as assinaturas olfativas dos perfumes europeus e americanos sejam diferentes, o estilo das construções é parecido. Isso não acontece por aqui”, diz o também francês Matthieu Ferreira, que chegou ao Brasil no ano passado para dirigir a área de Fine Fragrances da Drom. ‘O Brasil é um pouco apartado disso, as fragrâncias são multifacetadas e vão ser percebidas de modo diferente dependendo do momento do dia sempre muito balanceada, sem overnotes e muito mais relacionadas a contar uma história, a fantasia, do que a matéria-prima”, acredita o executivo, para quem, fragrâncias monotemáticas, orientadas pelas matérias-primas e que fazem sucesso, nos Estados Unidos e na Europa, não acontecem por aqui. “Uma fragrância de manga nos Estados Unidos vai cheirar como uma manga. Aqui não. Simplesmente porque os brasileiros não gostam disso”, emenda.

Para Delville, voltar a trabalhar no Brasil após 10 anos é muito diferente, e bom. “Na primeira vez que estive aqui, minha percepção era de que seria fácil criar para o Brasil. Eu cheirava e dizia: ‘Isso não cheira nada. É fácil de fazer’. Mas aí, na prática, você não consegue fazer. É preciso se aprofundar na cultura, na culinária, nas referências de celebridades, e o tipo de personalidade do brasileiro”, lembra.

“O meu estilo de  criação também mudou nos últimos 10 anos. Hoje eu posso reconhecer e aprender sobre como  fazer fragrâncias melhores para o mercado brasileiro. Eu gosto de fazer perfumes para o Brasil. O uso de fragrância por aqui é para ser clean, sensual, para acompanhar o humor e a personalidade de quem a usa. Preciso sentir as pessoas e tentar criar algo que de prazer à elas. Isso toma tempo, mas eu estou tentando fazer com os meus colegas que seja um sucesso Fragrância para mim é prazer e você precisa compartilhar”, conclui.



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